sexta-feira, junho 08, 2007

A FAMÍLIA E A SEXUALIDADE DO INDIVÍDUO

A família tem aparecido sempre em evidência nos mais diversos campos dos estudos sociais, já que se constitui num espaço vital para o desenvolvimento da vida emocional de seus integrantes. Segundo José Roberto Tozoni Reis, “[...] o que não pode ser negado é a importância da família tanto ao nível das relações sociais, nas quais ela se inscreve, quanto ao nível da vida emocional de seus membros” (apud LANE; CODO: 1993, p.99). Não obstante, para alguns a família ser a base da sociedade enquanto para outros representar um entrave ao desenvolvimento social, é inegável, pois, que esta instituição é a formadora da nossa primeira identidade social.
Apesar de parecer inalterada sob alguns aspectos, a família de hoje apresenta inúmeras mudanças em seu interior; diferentemente de poucas décadas atrás, em que prevalecia a família nuclear (pai, mãe e filhos), a sociedade moderna presencia novos modelos de família, bem diferentes daquele tradicional, onde nem sempre o homem tem o papel de “provedor” e a mãe o de “cuidar da casa e dos filhos” (ver NASCIMENTO, 2000). Não obstante a sociedade moderna ainda estar aprendendo a lidar com esses novos modelos, muitas vezes não aceitos por todos, mas que são os novos protótipos de família da modernidade, quebrando inúmeros paradigmas dos estudos nesse campo. E, devido ao desconhecimento por parte dos demais grupos familiares, muitas vezes os filhos desses novos modelos de família são marginalizados.
Além dessas mudanças estruturais na família, a sociedade moderna tem presenciado, na maioria dos lares, a negligência presente na convivência familiar; a modernização cultural tem gerado o esvaziamento da preocupação ética nessas relações e falhado na preservação de valores culturais e históricos no interior de cada grupo social. O individualismo desta sociedade provoca transformações culturais e econômicas, gerando conflitos que são amplificados através da desigualdade social, econômica e cultural, pela prática de atividades ilícitas e pelo consumismo. Neste aspecto, observa-se que a convivência cada vez maior do adolescente – e muitas vezes de crianças –, com o mundo das drogas, afastando-os cada vez mais dos valores éticos inerentes à família.
Através dessa ótica, percebe-se no interior da maioria das famílias, a televisão tomando um espaço cada vez maior; e essa mesma TV, além de invadir as casas com milhares de informações, passa também a ter um papel de coadjuvante de formar a identidade da criança e do adolescente nas mais diversas áreas, inclusive na sexual.
Apesar de todas as mudanças presenciadas no contexto familiar e da própria modificação do conceito de família, em que novos modelos já se fazem aparecer em grande número de lares do Brasil, a família continua a atuar no sentido do aprendizado diferenciado dos papéis sexuais, ao tratar de forma diferente filhos e filhas. Para José Roberto Tozoni Reis,
Enquanto os filhos são estimulados a serem independentes [...], as filhas são resguardadas e os pais desenvolvem um esforço sistemático para retê-las no universo familiar. A vida profissional e sua preparação (os estudos) constituem a principal preocupação e objeto da vigilância dos pais em relação aos filhos, enquanto que para as filhas a principal preocupação refere-se à vida afetivo sexual (LANE; CODO: 1993, p.120).

No que se refere à sexualidade, observa-se que esta continua ocupando um destacado papel na família contemporânea, pois ainda é vista como algo a ser controlado, principalmente por parte das mulheres. Mesmo com a abertura que aconteceu nas mais diversas instituições para se falar sobre o tema, a sexualidade ainda se constitui em núcleo de conflito na relação familiar. Não obstante, sabe-se que a sexualidade é construída a partir da vivência individual e da interação desse indivíduo com o seu grupo – e o papel da família neste ponto é imprescindível para que a sexualidade se expresse na vida da criança e do adolescente. E, muitas vezes, questões que são identificadas como sendo “problema” da crainça, deveria ser tratadas como sendo um tema da família e da escola.

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