sexta-feira, junho 08, 2007

Considerações Finais

Através da análise dos resultados, estão implícitas questões que envolvem crenças, valores e outras representações sociais dos educadores entrevistados, assuntos que serão pesquisados em trabalho posterior. Contudo, podem ser destacados alguns aspectos referentes ao universo de informações apresentados pelos educadores do município de Picuí com relação à questão do abuso sexual, que possibilitem uma amostragem do discurso apreendido no universo pesquisado, acerca do tema abuso sexual, ora apresentado no ambiente escolar.
O primeiro aspecto a ser considerado é a formação dos educadores, no qual se vê a lacuna existente no que se refere à falta de espaços de discussão das questões que envolvam a sexualidade. Essa problemática nos remete à questão levantada anteriormente, com referência aos cursos de formação de professores, que não preparam o educador para ver o aluno como um ser completo dentro de um contexto sócio-cultural, humano e sexual.
Com relação às informações acerca do ECA, pode-se perceber que a falta de acesso a esse instrumento e até de outras fontes de informação adequadas dificultam o lidar do professor com o problema, possibilitando a formação de conceitos inadequados, contribuindo para a perpetuação de concepções distorcidas acerca da problemática, como no caso da mídia que, geralmente, não fornece as informações necessárias, chegando, muitas vezes, a apresentá-las de forma deturpada e superficial.
O receio de declarar as informações sobre a procedência dos casos conhecidos evidencia, mais uma vez, a falta de informação e o temor de se tratar questões ligadas à sexualidade e família. Por outro lado, é possível observar que a maioria dos educadores tem conhecimento de algum caso de abuso sexual.
Nas questões referentes às atitudes a serem tomadas frente aos casos de abuso sexual, ficou implícito, na maioria das respostas, que o discurso tendia a reproduzir acontecimentos do cotidiano sem, contudo, apontar para atitudes adequadas nessas situações.
Considerando a falta de informação acerca dos instrumentos legais de proteção à criança somada à necessidade de fornecer mecanismos adequados para que os educadores trabalhem o tema abuso sexual de forma mais consciente, este trabalho servirá como norteador para futuros estudos, contribuindo também para se (re)pensar a questão da orientação sexual nas escolas.
Este estudo, portanto, forneceu uma visão mais detalhada acerca da concepção de sexualidade e a percepção sobre abuso sexual existente nos dias atuais por parte dos profissionais da educação no Município de Picuí. Segundo a visão destes educadores, os assuntos ligados à sexualidade estão, na maioria das vezes, dissociados das dificuldades de aprendizagem. Essa questão cultural e histórica tende a esvaziar-se numa perspectiva de mudança, a partir do momento em que o educador estiver mais preparado e, automaticamente, menos angustiado no seu papel. Dentre alguns pontos observados, foi visto que as falhas nos cursos de graduação, os baixos salários e a falta de hábito de leitura são fatores determinantes para esta postura tendente a limitar o conhecimento.
Para Cláudio Saltini, “quando uma criança vai para a escola, não vai apenas para aprender, mas também para vivenciar o aprendizado como um todo e quem assim percebe, poderá então orientá-la, rumo ao amanhã” (1977, p. 73). É necessário, pois, que a Educação forme profissionais dispostos a estabelecerem relações afetivas mais profundas, em que o educando seja visto não só como uma estrutura biofisiológica e psicossocial, mas também na sua afetividade, como um ser que sente, chora, ri e também sofre. Somente desse modo, questões que hoje em dia não são percebidas, se tornarão visíveis, discutidas e esclarecidas no ambiente escolar.

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