sexta-feira, junho 08, 2007

ASPECTOS CONCEITUAIS

Vimos no tópico anterior que a violência sempre esteve presente na vida da criança. Dentre essas formas de violência, destaca-se o abuso sexual, que implica num constrangimento físico e moral contra a criança, deixando seqüelas, muitas vezes, permanentes e devastadoras, que sobrevivem à fase adulta.
O abuso sexual intrafamiliar é a forma mais freqüente. Ocorre em todos os países do mundo, em todas as classes. Na maioria das vezes é praticado por alguém que a criança conhece, confia e ama, ou seja, o pai, padrasto, tio, avô, ou alguém íntimo da família, contra uma criança do sexo feminino. Mas meninos também são freqüentemente abusados.
A forma mais comum de abuso sexual extra-familiar é a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes. Aqui, além da criança ou do adolescente, vítima do pedófilo, há um outro personagem, o aliciador. Este é um criminoso que ganha dinheiro com a venda do sexo de crianças e adolescentes.
O abuso sexual contra crianças, pois, é tema complexo que envolve uma gama de atos vistos como maus-tratos, mas significando uma situação em que a criança ou o adolescente é usado para a satisfação sexual do adulto ou mesmo de um adolescente mais velho, tendo por base uma relação de poder e dominação, incluindo manipulação dos órgãos genitais, exibicionismo, “voyeurismo”, incesto, o ato sexual sem penetração, o estupro e, em muitos casos, a exploração sexual; esta se distingue do assédio sexual já que, segundo Schechter e Roberge (1976 apud Furnis, 1993, p. 12),
A exploração sexual das crianças refere-se ao envolvimento de crianças e adolescentes dependentes, imaturos desenvolvimentalmente, em atividades sexuais que eles não compreendem totalmente, às quais são incapazes de dar um consentimento informado e que violam os tabus sociais dos papéis familiares.

Assim posto, não iremos detalhar a exploração sexual de crianças, já que esta envolve diversos outros mecanismos sociais que, devido ao nosso objeto de estudo, não serão contemplados neste trabalho. Interessa-nos visualizar o abuso sexual que corresponde aos “atos de natureza sexual impostos a uma criança ou adolescente por um adulto que explora seu poder hierarquicamente superior” (De Antoni e Koller: Adolescência e Psicologia, p. 87), já que esta relação não está sintonizada com o nível de desenvolvimento da criança e do adolescente, comprometendo estes em vários aspectos de sua intimidade e de sua vida social.
Há um consenso entre os especialistas de que violências do tipo abuso sexual acontecem a toda hora, em todos os lugares, de diferentes formas e que, em geral, os abusadores são do sexo masculino. Acredita-se que menos de 10% das vítimas denunciam seus agressores, este fato se dá muito provavelmente porque em cerca de 60% dos casos o agressor, conforme foi dito anteriormente, é alguém da família – o que pode agravar ainda mais a situação da vítima, pois essa relação de proximidade facilita a ação do abusador e intimida a vítima. Assim, por se tratar da natureza secreta e escondida de que se reveste a maioria das experiências abusadoras, a definição mais precisa sobre o que é ou o que não é abuso sexual, acaba sendo obtida através de depoimentos da própria vítima. Nesse caso, a observação do sofrimento é o que acaba revelando o grau do abuso. O relato a seguir exemplifica estas afirmações.

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