sexta-feira, junho 08, 2007

APRE(E)NDENDO A SEXUALIDADE NA ESCOLA

A sexualidade está presente em todos os momentos e em todos os lugares do mundo ocidental, já que esta é uma construção social e histórica. Na visão de Ricardo de Castro e Silva, quando seu conteúdo é gradualmente desvelado, passando pela experiência pessoal e coletiva, acontece o favorecimento do contato com infinitas possibilidades da existência humana, concretizando-se pela marca pessoal e singular. Isso acontece devido à complexidade que o sexo adquire para a formação da identidade de cada um. O conceito de sexualidade para a OMS é:
uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não podem ser separados de outros aspectos da vida. Sexualidade não é sinônimo de coito, e não se limita à presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isto. É a energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas e como essas tocam e são tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações, e portanto a saúde física e mental. Se saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deveria ser considerada como um direito humano básico. A saúde mental é a integração dos aspectos sociais, somáticos, intelectuais e emocionais de maneira tal que influenciem positivamente a personalidade, a capacidade de comunicação com outras pessoas e o amor (Definição da Organização Mundial de Saúde, 1975).

Ao longo da história do pensamento, teóricos têm se preocupado, dentro de diferentes áreas do conhecimento, em esclarecer a relação entre o sexo e a aprendizagem. Já o mecanismo da aprendizagem envolve o que “ensina” e o que “aprende”, criando-se assim um vínculo que se mostra também um processo dialético. Dessa forma, a descoberta da sexualidade na escola vai se descortinando perante os olhos do aprendente e, mais ainda, do ensinante, na medida em que o aluno aprende os nomes para os seus atos, enquanto o professor, através das experiências ouvidas, formula imagens de como vem a ser o cotidiano sexual dos seus educandos.
Em tese, a família seria responsável pela formação do indivíduo, enquanto a escola responderia por sua informação; não é o que se observa, entretanto, ao longo do desenvolvimento da educação no Ocidente e, como não poderia deixar de ser, no Brasil. Até o início do século XX, a educação dos filhos realmente era tarefa quase que exclusiva dos pais, em especial da mãe. Porém, à medida que a sociedade foi se tornando mais complexa, outros agentes de socialização, em especial a escola, também se responsabilizaram por essas tarefas. É por este motivo que a família, na grande maioria das vezes, deixa o maior encargo da formação dos filhos à escola e, nesse sentido, a orientação sexual não foge à regra.
As escolas procuram inserir a orientação sexual nos currículos e no cotidiano dos seus alunos, mas o tema ainda se encontra rodeado de muitos tabus, porque muitas vezes, essas informações vão de encontro à formação dos próprios educadores enquanto indivíduos. Para Silva (2002, p. 33):
A discussão das questões da sexualidade humana traz para a escola muitas das contradições de nossa sociedade, o que desencadeia um movimento de repensar a sexualidade tanto individual como coletiva, nos grupos, possibilitando a construção de novas idéias.

Assim, superados os diversos obstáculos por parte dos profissionais da educação, no sentido de repassar uma visão mais isenta da sexualidade, a escola pode ser um dos lugares plausíveis para a possibilidade de informar e refletir acerca da sexualidade, principalmente quando começarem a surgir, nessas discussões e reflexões, o não dito, o proibido, o errado, o escondido, o diferente. Paulo Roberto Moreira sintetiza esse pensamento, quando diz que “o papel da escola na socialização é dar condições para que o educando desenvolva a autonomia juntamente com a construção de novos conhecimentos” (1994, p. 46).
Levantar uma discussão na escola acerca de temas ligados à sexualidade, especificamente de abuso sexual contra crianças é, antes de tudo, como já dissemos, lidar com concepções cristalizadas na sociedade moderna, o que é comprovado no nosso dia-a-dia através dos discursos e da própria forma como se comporta o educador. Desse modo, é evidente que precisamos construir, a partir da perspectiva histórica da sexualidade, como foi visto anteriormente, o conhecimento da problemática do abuso, a partir do que é, o que contribui para que o abuso aconteça, como identificá-lo para, a partir daí, intervir na situação – tema que será abordado no segundo capítulo deste estudo.

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